sábado, 7 de abril de 2012

Eu e a bicicleta


                            Eu e a bicicleta
  
A idade que eu tinha não me lembro ao certo, só sei que eu já estava morando na vila Bancaria, então seria ali pelos meus 10 anos quando ganhei minha primeira bicicleta, e com ela aprendi a andar e me apaixonar por pedalar, foi um presente dado por minha tia Ursulina para mim e pro meu irmão, um detalhe, a bike era importada “Raleigh”(sei lá) aro 24, meu irmão por ser mais velho tomava conta, o tempo que ela durou ou qual fim ela teve, não recordo.
Assim que meu irmão completou 14 anos meu pai o colocou pra trabalhar, uma das primeiras coisas que ele fez com seu dinheiro foi comprar uma nova bicicleta, aro 26 pneu balão, e a prestação!
Neste ano eu estava fazendo admissão, como no grupo escolar da Itaberaba(Luis de Brito) não tinha 5º ano, tínhamos de fazer no ginásio do Piqueri, pra quem conhece a Frequesia do Ó (SP)sabe como ficava longe e nós íamos a pé todo dia Bancaria-Itaberaba-Freguesia-Piqueri, todo dia, ida e volta, eu o Job e o Marcos(branca).
O Job tinha bicicleta e começou com a idéia de ir de bike pra escola, o Branca que era filho único e tinha uma situação financeira melhor que a nossa, pediu pra “mamãe” e ganhou um bike nova...i eu?...duro, pobre, ia ter de continuar indo a pé, minha mãe sensibilizada com minha situação convenceu meu irmão a emprestar a bicicleta dele pra eu poder ir a escola junto com meus amigos.
Primeiro dia, a ida tudo bem, subida da Av. Itaberaba, descida a direita em frente o cemitério da Freguesia, beleza! Assistimos às aulas, mas meu pensamento estava só na volta, pedalar aquela bike nova que ficava só no cadeado pra eu não pegar, enquanto ele(meu irmão) estava no serviço, legal, agora eu tinha a autorização da mão pesada do meu pai e aprovação da minha mãe.
Saída da escola, subida até a Av Itaberaba, depois só plano até a igreja, depois descida até a Bancaria... Mas não foi bem assim...
Bem enfrente da 28ª delegacia de policia fui atropelado por um caminhão de um feirante português, falar como foi não sei! Só me recordo de estar debaixo do caminhão, uma mulher com sotaque português chorando e gritando desesperada, eu, olhava sem ter intendência de nada, até ver minha calça branca toda rasgada e ensangüentada.
Esta cena e a do pneu traseiro do caminhão mordiscando minha perna e o cardam sobre minha cabeça nunca esquecerei
Veio um PM e me puxou pelas pernas e me tirou ali debaixo, depois pelos braços queria que fica-se em pé, mas como!? eu não sentia nada da cintura pra baixo! veio outro PM me carregou pra dentro da delegacia e me colocou num banco, chamou um taxi e me levou pro Sandú, eu estava abobalhado(mais), via tudo, não entendia e nem sentia nada, lá fizeram pontos em um corte profundo em minha cintura( tenho até hoje a cicatriz), me lembro que o enfermeiro ou medico, sei lá, costurava, eu olhava, mas não sentia nada, sem noção, sem choro.
Dali me levaram pra santa casa de ambulância, com direito a sirene e tudo, disto me lembro, e o PM ali do meu lado
Fui colocado numa maca e levado pro Raio x, me vira para ca , me vira pra lá, baixa a máquina, sobe a máquina, por fim me colocaram em uma cadeira de rodas  e me deixaram no corredor do hospital, por quanto tempo não sei...
Me lembro que passou por mim 3 pessoas  e eu reconheci, era meu pai, meu irmão e o PM que através de informação com meus amigos descobriu onde meu pai e meu irmão trabalhava e foi la buscá-los, ao velos, saiu um temeroso...
- Pai...eles se voltaram, meu irmão só não me bateu por eu estar naquela situação, mas me xingou de tudo quanto era nome feio, ele não tava nem ai se eu estava na cadeira de rodas, tava mordido por conta da bike nova dele... Desculpa “Mancha” meu irmão!
Saiu o resultado do raio x, fratura nos ossos da bacia, por isso eu não movimentava minhas pernas. Isso resultou em 42 dias na cama imóvel, banho de esponja, necessidades na comadre e mangueirinha no pingulim...hoje em dia tem cama especiais para este tipo de trauma, mas naquele tempo! alem do mais pra quem era pobre, se vira pião!
Ah! O feirante português!? Contaram-me que ele fugiu assim que me atropelou e um PM foi atrás dele e o capturou, dizem que ele xingou o policial e tudo o mais, sabem quem era este policial? O mesmo que me socorreu! Meu herói!
Nestes dias de cama eu o vi varias vezes em casa, só sei que por um bom tempo não faltou verdura la em casa, ele era feirante verdureiro!
Meu irmão ganhou uma bike nova dele, pois a outra deu perda total.
Mais tarde me convenceram a contar em uma audiência na delegacia (após minha recuperação)uma estória dando como eu ter sido o culpado de ser atropelado.
Falando serio, até hoje só me recordo de ter pegado a bike na saída da escola, ai vem um espaço em branco (esquecimento) depois a mulher do português gritando e chorando,
 e eu embaixo do caminhão...
 
Aos 14 anos foi a minha vez de começar a trabalhar, depois de tudo(acidente)perdi um ano mas consegui passar no vestibulinho e entrar no Ginasial.
Eu era officeboy ,como eu estava sempre na rua(trabalhando), vi uma promoção de cadernos, mas em pacote fechado de 10 cadernos a bom preço, o problema era que eu só precisava de 5, conversei com o Claudio que trabalhava na mesma empresa que eu e ele também só precisava de 5, nos associamos e compramos o pacote 10 cadernos, 5 pra cada, ao pagar no caixa me deram um cupom pra preencher , conversei com o Claudio e ele disse que podia ficar pra mim, legal...
Passou o tempo eu nem me lembrava mais disto, outro colega oficeboy  me disse ter visto meu nome numa lista na da papelaria da São Bento(SP), sem mais informação sobre o que seria fui la conferi.
Estava la na parede o nome dos contemplados no sorteio dos cadernos Hip:
5º premio – Uma bicicleta  Caloi Berlineta dobrável
Premiado – Gilberto Alexandre Chagas...Eeeeeuuuuuu !!!
Já me informei como pegar minha bike, tinha de pegar na Al. Pamplona, la pelas bandas das av. Paulista, sábado como eu trabalha só até ½ dia, após o serviço rumei pra lá, o único documento que eu tinha era meu registro de nascimento, o gerente da loja conferiu, mas disse não poder me entregar por eu ser menor de idade, só com a presença do meu pai...Caracas eu vi ali meu sonho de ter minha Caloi indo embora, meu pai, eu, bicicleta, acidente, pode esquecer!
Apelei, chorei, supliquei fiz de um tudo até que consegui, o Gerente liberou com a seguinte condição, eu deixar minha certidão de nascimento e trazer meu pai pra assinar os papeis e reaver a certidão. – Eu vou trazer meu pai, eu juro! Jurei em vão.
Com aquela caixa de papelão acondicionando minha bike,sai da loja, subi até a av.Paulista ai me dei conta, como levar pra casa?
Lembro-me de entrar em uma rua que tinha um casarão na esquina com muro verde de plantas, desmontei a caixa, tirei a bike, havia uma sacolinha com ferramentas e bomba, num deu outra, desdobrei a bike, enchi os pneus, coloquei os pedais, tinha uma chave alen que fazia tudo, subia o banco, apertava, subia o guidão, apertava e apertava também o parafuso na dobradiça no meio do quadro...
Aos 14 anos de idade fiz o meu primeiro ciclo turismo da minha vida...
Da av. Paulista a Vila bancaria - Itaberaba SP montando minha Caloi Berlina Dobravel Ah! A certidão, esta nunca mais, em 79 já estando morando em Cuiabá tive de voltar ao cartório de Santos, minha cidade natal, para tirar a 2ª via, pois pretendia prestar vestibular na UFMT. 

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